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Sono da Alma

Tradução da pergunta “Quando uma pessoa morre, para onde vai a sua alma ou espírito antes da Segunda Volta?” do livro Now, That’s a Good Question! Copyright © 1996 por R.C. Sproul

"Now, That's a Good Question!: Answers to Questions about Life and Faith" por RC Sproul
Este livro tem mais de 300 respostas às mais frequentes perguntas sobre Vida e Fé

“Através da sua história a Igreja debateu-se com o conceito do chamado “estado intermédio” – ou seja, a nossa posição desde o momento em que morremos até ao momento em que Cristo consumará o seu reino e completará as promessas que afirmamos no Credo Apostólico[1]. Acreditamos na ressurreição do corpo. Acreditamos que haverá um tempo em que Deus reunirá a nossa alma e o nosso corpo, e que teremos um corpo glorificado assim como o de Cristo quando saiu do sepulcro como o “primogénito de entre os mortos”. Nesse entretanto, o que acontece?

A posição mais comum tem sido a de que, na morte, a alma vai imediatamente à presença de Deus e há uma continuidade na existência pessoal. Não existe uma interrupção de vida no final desta vida, mas continuamos vivos através das nossas almas pessoais após a morte.

Há quem tenha sido influenciado por uma visão cúltica chamada Psychopannychia[2] (em Português: Psicopaniquismo), mais conhecida como sono da alma. A ideia é que no momento da morte a nossa alma entra num estado de animação suspensa. Ela permanece num sono, em estado inconsciente, até ser despertada no momento da grande ressurreição. A alma ainda está viva, mas está inconsciente, de modo que não há percepção da passagem do tempo. Eu julgo que esta conclusão é retirada de forma inapropriada da maneira eufemística como no Novo Testamento se fala das pessoas que morreram como estando adormecidas. A expressão judaica comum de as pessoas estarem “adormecidas” significa que elas estão maravilhadas com a pacífica tranquilidade daqueles que atravessaram as lutas deste mundo e se encontram na presença de Deus.

Mas o que as Escrituras no geral nos ensinam, mesmo no Antigo Testamento onde o seio de Abraão era visto como o lugar da vida após a morte, é que existe uma persistente noção de continuidade. Paulo explica-o desta forma: Viver nesta vida é bom; o mais grandioso que pode vir a acontecer é participar na ressurreição final. Mas o estado intermédio é ainda melhor. Paulo disse que estava dividido entre os dois.[3]

Por um lado, o seu desejo era partir e estar com Cristo, que é muito melhor, e por outro, ele tinha um desejo de permanecer vivo e continuar o seu ministério nesta terra. Mas a opinião do apóstolo, de que a passagem pela cortina da morte para esse estado intermédio ser muito melhor do que este estado, dá-nos uma pista, juntamente com muitas outras passagens bíblicas. Jesus disse ao ladrão na cruz, “Em verdade te digo que estarás comigo, hoje, no paraíso” (Lucas 23:43). A imagem do Rico e de Lázaro no Novo Testamento (Lucas 16:19-31) indica-me que existe uma continuidade de vida e de consciência nesse estado intermédio.”

Notas
[1] – “Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra.
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém”

[2] – João Calvino escreve em 1534 este tratado para refutar a errada posição teológica do “sono da alma”, propagada à época pelos Anabaptistas e por outros grupos Protestantes radicais.

[3] – “De facto, para mim o viver é Cristo e o morrer é ganho. Mas se o continuar a viver é útil para o meu trabalho, então não sei o que hei de escolher. Estou pressionado de ambos os lados: tenho o desejo de partir e de estar com Cristo, o que seria incomparavelmente melhor; mas, por vossa causa, é mais necessário continuar a viver.” Efésios 1:21-24

A paz que procuramos

Um amigo partilhou a seguinte mensagem no Facebook e eu decidi escrever este artigo.

Na minha opinião poucas coisas colocam, nos dias de hoje, um maior obstáculo à correcta percepção do Evangelho do que a prática do “sacrifício” pessoal como um meio reconciliador com o Deus das escrituras.

As obras já escritas sobre Antropologia da Religião demonstram, ao analisar o comportamento do ser humano ao longo da história, uma natural inclinação de este tudo fazer para tentar obter a aprovação de Deus. Essa predisposição de agradar a figura que intuitivamente todos reconhecemos como autor da realidade e juiz supremo ao qual prestaremos conta do que fizemos e pensamos durante a nossa vida, através do sacrifício pessoal, é tão antiga como o tempo. Porém, este conceito de penitência, o sofrimento pessoal, oferecido como pagamento de pecados cometidos é um conceito perfeitamente estranho à Bíblia. Façamos então uma comparação entre o que ensina a Igreja Católica, da qual este meu amigo é membro, sobre o tema,

“«Toda a eficácia da Penitência consiste em nos restituir à graça de Deus e em unir-nos a Ele numa amizade perfeita». O fim e o efeito deste sacramento são, pois, a reconciliação com Deus. Naqueles que recebem o sacramento da Penitência com coração contrito e disposição religiosa, seguem-se-lhe «a paz e a tranquilidade da consciência, acompanhadas duma grande consolação espiritual»1

O Sacramento da Penitência e da Reconciliação, artigo 4, tópico 1468 – link
1- Concílio de Trento, séc XVI, 14ª, Doctrina de sacramento Paenitentiae, c. 3: DS 1674

com o conteúdo apostólico das Escrituras que lhe deram origem.

“Sabemos porém que uma pessoa não é justificada pelo cumprimento da lei mas por meio da fé em Jesus Cristo. Ora nós cremos em Jesus Cristo para sermos justificados pela fé e não por termos feito o que a lei manda. Pois ninguém será justificado perante Deus por cumprir a lei.”

Gálatas cap. 2 ver. 16 – link

“Não desprezo a graça de Deus, pois se alguém pudesse ser justificado pelo cumprimento da lei, então a morte de Cristo de nada serviria.”

Gálatas cap. 2 ver. 21 – link

Nota: A lei a que estes versículos se referem eram os 613 mandamentos, leis ou regras contidas nos 5 livros primeiros livros da Bíblia, escritos por Moisés. O Judaísmo era uma religião fortemente legalista.

“Porque é pela graça que estão salvos, mediante a fé. E isto não é mérito vosso, é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se glorie.”

Efésios cap. 2 ver. 8-9 – link

A caminhada do Cristão é imperfeita porque, mesmo após o novo nascimento -a conversão que vem até nós após entendermos e aceitarmos o Evangelho– continuamos infectados por essa doença chamada rebelião. Essa rebelião por vezes produz em nós pecados, e quando isso acontecer não vamos desprezar o sangue que Jesus verteu por nós tentando por nossos próprias mãos reconciliar a nossa vida com Deus. Antes, devemos confiar na promessas que os Apóstolos João e Paulo nos fazem,

“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós próprios e faltamos à verdade. Mas se confessarmos os nossos pecados, Deus que é fiel e justo perdoará os nossos pecados e nos purificará de todo o mal. Se dissermos que não cometemos pecado, fazemos de Deus mentiroso, e a sua palavra não está em nós.”

1 João cap. 1 ver. 8-10 – link

“Mas agora não há condenação para os que estão unidos a Jesus Cristo.”

Romanos cap. 8 ver. 1 – link

Esta inclinação em fazermos algo que nos custa, feito com sacrifício, evento normalmente associado a um plano espiritual, seja uma simples caminhada, longas peregrinações, doações, sacrifícios animais ou humanos (este último felizmente já não muito vulgar) é um componente forte da maioria das religiões mundiais.

Mas, se podemos afirmar algo em relação ao Cristianismo e à forma como vingou no mundo ocidental é que esta não é uma religião igual às outras. Esta é uma religião cujas premissas se distinguem das demais já que foi instituída por Deus e não pelo ser humano. A grande diferença é esta: as religiões prometem que há um conjunto de acções e práticas que o Homem deve cumprir para dessa forma ganhar o favor de Deus, o sentido é ascendente, a isto chamamos salvação pelas obras.
Ao invés, o Cristianismo bíblico em perfeita oposição a todas as outras religiões, mostra-nos um Deus misericordioso que desceu até ao Homem para o salvar da -justa- condenação, já que ele não o podia fazer por si só. Deus pede para que o Homem confie n´Ele, por fé. A isto chama-se a salvação pela graça (graça=favor imerecido), por meio da fé.

A verdade é que somente podemos encontrar a completa paz na nossa vida após aceitarmos a obra cumprida por Jesus na cruz. Essa é a obra reconciliadora com Deus, não há outra. Essa obra é o Evangelho e é a que, como embaixadores de Cristo, temos o dever de anunciar aos habitantes desta terra naturalmente inóspita às verdades das escrituras.

O que dizer então àqueles que praticam e ensinam outros a ignorar a eficácia da obra já cumprida, a desmerecer o sacrifício de Jesus, a considerar essa obra como que imperfeita ou incompleta? Devemos em amor comunicar o mesmo que o autor da carta aos Hebreus, que foi bem claro quanto a este tema:

“Pensem bem quanto maior não deve ser o castigo que merecem aqueles que desprezam o Filho de Deus! E que será daqueles que desprezam o sangue da aliança que os purificou e que insultam o Espírito de Deus que lhes comunicou a sua misericórdia?”

Hebreus cap. 10 ver. 29 – link

Como suas criaturas, devemos honrar a Deus através da cuidadosa observação e prática do que nos foi por Ele deixado nas páginas do Novo Testamento. Todos os restantes ensinos ou práticas devem ser comparadas com os textos apostólicos, e, quando achados em discordância, os extra-bíblicos devem ser ignorados. Deus vai-nos julgar pelo que está revelado nas Escrituras, e não por aquilo que um homem, mulher, seita contemporânea ou organização religiosa milenar diz ser a verdade sobre Deus.

O meu conselho a todos vós é que procedamos na nossa vida sempre com o devido temor e respeito à já revelada guia de Deus, as Suas Escrituras, porque elas reflectem a perfeição do carácter divino do seu autor e como tal nunca nos causarão engano.

Jesus faz-lhe um convite, aceite-o.

“Venham ter comigo todos os que andam cansados e oprimidos e eu vos darei descanso. Aceitem o meu jugo e aprendam comigo, que sou manso e humilde de coração. Assim o vosso coração encontrará descanso, pois o meu jugo é agradável e os meus fardos são leves.”

Jesus em Mateus cap. 11, ver. 28-30 – link

E os seus fardos são leves.

Há muitas interpretações do que a Bíblia diz, como sei qual delas é a correcta?

Por RC Sproul em “Now, That´s a Good Question!“, pág. 36 

“Este é um problema que nos preocupa a todos. Existem algumas considerações teóricas  das quais poderíamos falar, mas eu prefiro antes perder algum tempo nas práticas.

A Igreja Católica Romana acredita que uma das funções da igreja é a de ser a intérprete autorizada das escrituras. Eles acreditam que não só temos uma Bíblia infalível, como temos também uma interpretação infalível dessa Bíblia. Isto de certa forma atenua o problema, mas não o resolve de forma completa.

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O Cristão Pode Perder a Sua Salvação?

“Era melhor que Deus me levasse logo deste mundo, para ver se não me perco.” Disse o Carlos (nome fictício)
“Quanto mais tempo aqui passamos, maior é a probabilidade de nos perdermos.” Continuou ele o desabafo num tom de brincadeira numa ocasião em que, juntos, tratávamos de uns assuntos administrativos da nossa Igreja.
Abanei a cabeça em sinal de discordância e com um sorriso perguntei-lhe: “Acreditas mesmo nisso?” Ele respondeu, “Acredito, tu não?”

Respondi-lhe, “Não, não acredito. Eu acredito que um Cristão jamais pode perder a sua salvação”

As muitas pessoas ao nosso redor que aguardavam a execução do serviço importante que tínhamos em mãos fizeram com que a minha mente dispersasse para longe da pergunta e após este episódio fiquei com a clara sensação -na verdade, um sentimento de culpa- que não fui esclarecedor na minha resposta. Sim, respondi à pergunta, mas não a consegui explanar nem defender a sua verdade através das Escrituras.
Temos, os apologistas, a todo o momento, o dever de apresentar argumentos lógicos e racionais na defesa da Fé e eu naquele momento prestei um mau serviço ao meu amigo e à causa de Cristo.

Assim, após meditar sobre a forma inadequada como abordei esta questão selei o tema sobre o qual iria escrever numa das próximas mensagens para o Apologética em Português. Venho desta forma colocar por escrito o que não fui capaz de transmitir ao “Carlos” na conversa que acima descrevi.

Este tema está directamente relacionado com uma mensagem publicada no passado, onde falei sobre a forma de como atingimos a salvação –se pela Fé, ou pelas Obras– e coincidência, até o vejo como uma sequência lógica no estudo da Soteriologia Cristã aí iniciado e como tal o timing deste episódio com o meu amigo foi perfeito.


Aviso!

Antes de continuar, sou obrigado a fazer uma importante pausa para esclarecer o leitor acerca da definição de “Cristão”, e esta definição é crucial para que ninguém venha ler sobre se pode ou não perder aquilo que ainda não possui, ou sequer sabe o que é:
Cristão – É todo aquele que autonomamente, usando o seu livre-arbítrio, reconhece perante Deus a necessidade de ser resgatado da Sua justa ira que pende sobre toda a Humanidade. Esse resgate/salvação só é possível obter por via da total confiança na obra já completa por Jesus Cristo. Ou seja, o Cristão é alguém que leu ou ouviu a mensagem do Evangelho de Cristo e a aceitou por fé, reagindo dessa forma em arrependimento pela vida conduzida em pecado até esse momento e reconhecendo a sua própria inabilidade de se colocar de bem com Deus. Desse ponto em diante o Cristão confia em Jesus como seu único Senhor e Salvador.

“Porque Deus amou o mundo, de tal maneira, que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” João 3:16
“E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo” Atos 16:31
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; Não vem das obras, para que ninguém se glorie” Efésios 2:8-9

Sou obrigado a insistir neste ponto porque:

– alguém que se lançou num tanque de água numa tarde de Domingo como resposta à (bem intencionada) pressão exercida por família ou amigos
– alguém que foi aspergido em bebé por um sacerdote da sua confissão religiosa
– alguém que traz um símbolo religioso pendurado no espelho do carro ou ao pescoço
– alguém que vai à Igreja com assiduidade mas que se conduz como Cristão apenas durante o ato litúrgico, comportando-se como um não-crente durante as restantes 166 horas da semana
– etc
esse alguém não é Cristão. Esse alguém é membro do grande embaraço espiritual chamado Cristianismo Cultural sobre o qual já aqui escrevi no passado.

Uma pessoa identificar-se como Cristã e uma pessoa ser Cristã (de acordo com a definição Bíblica) são coisas bem diferentes por isso cada um analise a sua própria consciência nesta parte.

Tem dúvidas se a sua conversão é real ou meramente social/cultural? Eu ajudo-o a chegar a uma resposta. Considere o seguinte:

– Se a sua vida se transformou de dentro para fora após a sua vinda à fé em Jesus, então a probabilidade de ser realmente um Cristão é alta.
– Se, porém, você age como Cristão apenas para se acomodar aos padrões dos que à sua volta se identificam como tal, a probabilidade de estar a viver uma falsa-conversão é elevada.

Você tem genuíno interesse em
– Orar fora dos momentos determinados nos atos litúrgicos na sua Igreja e cultivar um relacionamento pessoal com Deus diariamente?
– Ler a bíblia por sua própria vontade e frequentemente?
– Evangelizar as almas ao seu redor que estão longe de Jesus e como tal destinadas à perdição eterna?
– Aprofundar o seu conhecimento sobre as doutrinas básicas do Cristianismo para as saber explicar quando necessário?
Se a resposta é “não” à maior parte destas perguntas, quase seguramente está a viver uma mentira… cujas consequências serão eternas.

Medite nisto por favor e analise de forma séria as reivindicações do Evangelho o quanto antes.


Afinal… de quem é a Obra?

Se estava atento à introdução do texto já saberá qual é a minha resposta à pergunta inicial, mas vou escrevê-lo novamente: Um Cristão jamais poderá perder a sua salvação!

Para vermos se esta minha opinião tem sustento Bíblico, analisemos o seguinte: o que acontece na salvação do Cristão. Quem faz o quê a quem? Estamos a observar os méritos de quem?
Alguns exemplos.

O Cristão é transformado numa nova criatura

Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.
2 Coríntios 5:17

O Cristão é redimido

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado
1 Pedro 1:18-19

O Cristão é justificado

SENDO, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo.
Romanos 5:1

O Cristão tem a promessa da vida eterna

Porque Deus amou o mundo, de tal maneira, que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
João 3:16

O Cristão tem a garantia da Glorificação

E, aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.
Romanos 8:30

 

Havendo mais degraus no caminho da Glorificação, conforme a Ordo Salutis estabelecida, mas bastando para já olhar para estes, a pergunta óbvia a fazer é: o Cristão é o oleiro (agente ativo) ou o vaso (agente passivo) desta sua nova identidade?

Qual é a posição da Teologia Reformada a este respeito?

Todos os que são chamados por Deus, redimidos por Cristo e regenerados pelo Espírito Santo são eternamente salvos. Estes são conservados na Fé pelo poder do Deus Omnipotente e como tal continuam a perseverar na fé.

Suporte Bíblico para a posição Reformada:

  • A pessoa que verdadeiramente crê em Jesus Cristo tem uma nova vida que é eterna.

“Porque Deus amou o mundo, de tal maneira, que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16

“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.” João 3:36

“Na verdade, na verdade vos digo que, quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” João 5:24

“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna.” João 6:47

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.” João 6:51

“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” João 11:25

“Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus.” 1 João 5:13

“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre.” 1 Pedro 1:23

  • Todos os que chegam a uma genuína fé salvadora em Cristo são mantidos n´Ele em segurança para a eternidade, pelo poder de Deus.

“E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca terá sede. Mas já vos disse que também vós me vistes e, contudo, não credes. Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim, de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: que nenhum, de todos aqueles que me deu, se perca, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: que todo aquele que vê o Filho, e crê n’Ele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” João 6:35-40

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão do meu Pai. Eu e o Pai somos um.” João 10:27-30

“E eu já não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda, em teu nome, aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós. Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.” João 17:11-12

“Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal.” João 17:15

“Porque, os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho; a fim de que ele seja o primogénito entre muitos irmãos. E, aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.” Romanos 8:29-30

“Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte todo o dia; fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas, em todas estas coisas, somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Romanos 8:35-39

“O qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia do nosso Senhor Jesus Cristo.” 1 Coríntios 1:8

“E nos predestinou para filhos de adoção, por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito da sua vontade,” Efésios 1:5

“Em quem, também, vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória.” Efésios 1:13-14

“E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção.” Efésios 4:30

“Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” Filipenses 1:6

“Bendito seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo, para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos. Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós, Que, mediante a fé, estais guardados, na virtude de Deus, para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo.” 1 Pedro 1:3-5

  • Os verdadeiros crentes irão perseverar até ao fim em fé e obediência pelo poder do Espírito Santo

“Aquele que tem os meus mandamentos, e os guarda, esse é o que me ama; e, aquele que me ama, será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” João 14:21

EU SOU a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.  Vós estais limpos, pela palavra que vos tenho falado.  Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.  Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque, sem mim, nada podeis fazer.  Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.  Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.  Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.  Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.” João 15:1-11

“Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus, para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” Efésios 2:10

“E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá.” 1 Pedro 5:10

“Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis” 2 Pedro 1:10

De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim, também, operai a vossa salvação, com temor e tremor; Porque Deus é o que opera em vós, tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade.” Filipenses 2:12-13

Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço,e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, Prossigo para o alvo, pelo prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Pelo que, todos quantos somos perfeitos, sintamos isto mesmo; e, se sentis alguma coisa de outra maneira, também Deus vo-lo revelará” Filipenses 3:12-15

“Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado, porque a sua semente permanece nele, e não pode pecar, porque é nascido de Deus.” 1 João 3:9

“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca.” 1 João 5:18

Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação, porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres, pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus, e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento; Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do hábito, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal.

Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, E da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno. E isto faremos, se Deus o permitir. Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, E provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro, E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério. Porque a terra que embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; Mas a que produz espinhos e abrolhos é reprovada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada. Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos. Porque Deus não é injusto, para se esquecer da vossa obra, e do trabalho de amor que, para com o seu nome, mostrastes, enquanto servistes aos santos, e ainda servis. Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança; Para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que, pela fé e paciência, herdam as promessas.” Hebreus 5:11 – 6:12

“Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam connosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.” 1 João 2:19

“E esta é a promessa que Ele nos fez: a vida eterna.” 1 João 2:25

Objeções

  • Licença para pecar?

Uma objecção recorrente contra o ensino da segurança eterna em Cristo é a de que isso se torna uma liberdade para viver de forma imoral. O problema com esta acusação é que ela ignora a regeneração activa que Deus executa em nós. Por outras palavras, os críticos desta posição invariavelmente ignoram o facto de que Deus transforma o pecador. Ele faz-nos nascer de novo, e dessa forma somos feitos novas criaturas (“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” 2 Coríntios 5:17)
Como novas criaturas, temos Deus a viver em nós (“Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.” João 14:23), e portanto, não podemos permanecer no pecado (“Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado*, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado*, porque é nascido de Deus” 1 João 3:9).

(* – as palavras utilizadas por João, transliteradas para hamartanei e hamartanōn indicam o pecar de forma contínua.)

  • Hoje sou Cristão, amanhã? Não sei…

A definição de Cristão é erguida e unicamente sustentada pelos alicerces das Escrituras, não cabe mim ou a si (os sujeitos) definir livremente o que é ser Cristão porque essa definição é-nos objectivamente dada pelas Escrituras. Mas uma coisa podemos garantir, aquele que abandona a fé e nega a Jesus nunca foi um Cristão verdadeiro, “Eles saíram do meio de nós, mas não eram dos nossos. Se fossem dos nossos teriam ficado connosco. Mas era preciso que ficasse claro que nem todos são dos nossos.” 1 João 2:19

holding hand

Seguros nas mãos de Deus

Conclusão

Como tivemos oportunidade de analisar, o Cristão necessita de aceitar Jesus como seu Salvador, mas quem é que elege, predestina, chama, regenera, redime, dá a fé, dá o arrependimento, justifica, santifica, faz perseverar e glorifica o crente? Deus, claro.

E se é Deus quem toma a iniciativa de salvar o crente, e se este último apenas responde pela fé que Deus lhe dá, que autonomia ou poder tem o crente para se sobrepor à vontade última de glorificação que Deus predeterminou, quando esse crente apenas dispõe da sua própria humana, carnal, imperfeita e absolutamente ineficaz vontade para tentar frustrar o soberano propósito do criador do Universo?
A resposta é simples: nenhuma autonomia ou poder. Nenhuma.

Caberia a Deus frustrar a sua própria vontade -o que seria ilógico- ou voltar atrás com o seu querer -o que atentaria contra o seu carácter de santidade-, ou seja, não há volte-face no decreto da Salvação: Uma vez salvo, para sempre salvo.

Atingir a salvação não dependeu de nada que nós fizéssemos, mantê-la não depende de nada que possamos fazer; então, desta forma, perdê-la não pode ocorrer por algo que nós mesmo façamos.

Nas palavras de Paul Enns:
“Para um crente perder a sua salvação teria de ocorrer um retrocesso e um desfazer de todas as obras precedentes do Pai, Filho e Espírito. O assunto chave na discussão acerca da segurança do crente diz respeito à pergunta de quem produz a salvação. Se o homem é o responsável por assegurar a sua salvação, então ele pode perdê-la; Se é Deus quem assegura a salvação da pessoa, então essa pessoa estará eternamente segura.” Paul Enns – The Moody Handbook of Theology (Chicago: Moody Press, 1989), p. 341

Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” Romanos 8:31


Obras consultadas na elaboração deste artigo:
Is Your Salvation Secure de John MacArthur
Um Cristão Pode Perder a Salvação? de GotQuestions.org
Can you lose your salvation? de Matt Slick
Referências às Escrituras dos Cânones de Dort
P
ara consulta dos versículos citados por favor use o serviço Bible.com (Português, versão ARC)

Devemos Ler e Estudar a Bíblia?

Sim! De preferência todos os dias e se tiver essa possibilidade faça-o várias vezes ao dia.

A pergunta-título desta mensagem segue a linha de raciocínio de uma outra que deve estar na cabeça de todo o Cristão após o término do ato litúrgico da sua Igreja: O que foi pregado está de acordo com as Escrituras? Se sim, amém, se não, ore a Deus pelo sacerdote/pregador e esqueça tudo o que ouviu o quanto antes.

E digo que segue essa linha porque o Cristão deve ter clara consciência que nenhuma revelação particular está acima da Revelação que Deus nos faz chegar através dos 66 livros que compõem o Cânone Bíblico Cristão. Neste assunto tão importante sejamos imitadores daqueles a quem Lucas chama de nobres Bereianos no seu livro “Atos dos Apóstolos”, os quais conferiam nas Escrituras se o que era anunciado do púlpito correspondia à verdade.

E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Bereia, e eles, chegando , foram à sinagoga dos judeus. Ora estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalónica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia, nas Escrituras, se estas coisas eram assim.

 

 

Atos 17:10-11

Aproveito a ocasião para partilhar um texto com o qual me cruzei há pouco no blog… Bereianos,  que aborda precisamente esta ideia de que o Cristão só pode saber comparar a verdade da pregação com o que as Escrituras declaram se possuir um abundante conhecimento delas mesmo, conhecimento esse pelo qual vem também a bênção de Deus.

Confira aqui a mensagem original, cujo título bem sugestivo é “O problema do analfabetismo bíblico” e que partilho com os leitores abaixo. Boa leitura!


Historicamente temos no Brasil uma considerável diminuição no analfabetismo, mas nas igrejas temos um crescente índice de analfabetismo bíblico e isso é sempre preocupante. Os crentes não leem (sic) mais a Bíblia de forma sistemática.

Ao usar o termo analfabetismo bíblico estamos designando uma falta de conhecimento das Sagradas Escrituras, não meramente um conhecimento intelectual, mas, experimental, um crescimento na graça e no conhecimento como disse o Apóstolo Pedro em sua segunda epístola (2 Pedro 3.18).

Estamos inseridos numa geração pragmática, onde vigora o “funciona”, uma geração que busca resultados imediatos, mas sem estrutura, sem cerne, sem fundamento sólido. Uma geração que tem edificado sobre a areia, que não tem sustentação e nutrição. Temos uma crescente influência da “cultura gospel”, que transforma artistas em ícones e gurus que através de redes sociais tem ‘discipulado’ muitos.

O analfabetismo bíblico não se limita a onda da cultura pop que envolve jovens cristãos. A exaltação de experiências místicas e revelações que ultrapassam os ensinos bíblicos têm sido também um fator que contabiliza pontos negativos para o crescimento espiritual da igreja no Brasil. Outro fator que podemos mencionar é a carência de genuíno ensino bíblico, muitas igrejas têm substituído o ensino e exposição das Escrituras por entretenimento. A centralidade em músicas, teatro, dança ou qualquer manifestação artística é um fator negativo para o crescimento de uma igreja. O centro do culto deve ser o Deus trino, sua Palavra nos foi dada para seguirmos sua vontade, a infidelidade do culto de muitas igrejas tem sido sua chaga. Tudo no culto deve ser gerido pela Escritura e ao que ela determina. Devemos apreciar artes e incentivar nosso povo a desenvolver uma leitura cultural baseada na Escritura e na graça comum, mas o culto é determinado por quem o aceita e não por quem o oferece.

O profeta Oséias nos diz:

“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.”

 

Oséias 4.6

Vemos no texto de Oséias que o povo é destruído pela falta de conhecimento, quando esse conhecimento está ausente, quando ela falta ao povo, isso acarreta sérias consequências. Observamos que inicialmente a responsabilidade do desvio do povo é responsabilidade do sacerdote, pois o sacerdote se esqueceu da lei do Senhor, se o líder está longe da palavra o povo sofrerá por isso, o povo será influenciado por isso. Mas o julgamento de Deus não se limita aos líderes infiéis, o povo é responsável por seus descaminhos, pois a lei de Deus foi dada para que seja observada pelo povo como nos diz Deuteronômio:

“ESTES, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR vosso Deus para ensinar-vos, para que os cumprísseis na terra a que passais a possuir; Para que temas ao SENHOR teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e que teus dias sejam prolongados. Ouve, pois, ó Israel, e atenta em os guardares, para que bem te suceda, e muito te multipliques, como te disse o SENHOR Deus de teus pais, na terra que mana leite e mel. Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.”

 

Deuteronômio 6.1-9

Na leitura de Oséias ainda lemos:

“Por isso, como é o povo, assim será o sacerdote; e castigá-lo-ei segundo os seus caminhos, e dar-lhe-ei a recompensa das suas obras.”

 

V.9

Note que o castigo de Deus não é somente ao líder que negligenciou a lei, mas também ao povo, o povo tem responsabilidade diante de Deus.

Muitas vezes ao olharmos para a situação da igreja evangélica brasileira, podemos deduzir erroneamente que muitos seguem os ensinos neopentecostais por ignorância somente, mas na prática não é assim. Muitos deixam igrejas históricas e migram para os arraiais do neopentecostalismo em busca de prosperidade financeira, cura física para alguma enfermidade ou qualquer outro interesse que se tenha. Tais pessoas também são culpadas por seus pecados, elas respondem diante de Deus por sua apostasia. O homem não é um coitadinho, ele é pecador, inimigo de Deus, que tem prazer em pecar. Ninguém será julgado pelo pecado de outro, mas, pelos seus próprios pecados.

A Bíblia nos recomenda a lermos a lei do Senhor todos os dias, ela é nosso alimento, nosso pão, ela nos sacia:

“Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido.”

 

Josué 1.8

Devemos estudá-la:

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam.”

 

João 5.39

Devemos julgar qualquer ensino pelas Escrituras:

“Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.”

 

Atos 17.11

Devemos ser praticantes da Palavra:

“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos.”

 

Tiago 1.22

A Palavra deve saturar nossas vidas:

“A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração.”

 

Colossenses 3.16

Os sérios problemas que temos hoje nas igrejas são decorrentes da falta de conhecimento das Escrituras Sagradas, como vimos no inicio, não um mero conhecimento intelectual, mas, conhecimento prático também. Temos muita música, muito entretenimento e uma escassez exposições e pregações bíblicas.

Com o profeta Oséias aprendemos muito sobre isso e a solução para o analfabetismo bíblico:

“Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra.”

 

Oséias 6.3


Para finalizar, e pedindo desculpa ao autor do texto pela ousadia, gostaria de mencionar mais alguns textos bíblicos que focam este assunto:

Paulo escreve ao seu discípulo Timóteo

Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.

 

2 Timóteo 2:15

e ainda

Tu, porém, mantém-te firme naquilo que aprendeste e aceitaste confiante. Sabes bem de quem o aprendeste e que desde a infância conheces as Sagradas Escrituras. Sabes que elas podem dar-te a sabedoria que leva à salvação, pela fé em Cristo Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e serve para ensinar, convencer, corrigir e educar, segundo a vontade de Deus, a fim de que quem serve a Deus seja perfeito e esteja pronto para fazer tudo o que é bom.

 

2 Timóteo 3:14-17 (Tradução Bíblia para Todos)

 

Jesus, quando tentado no deserto, responde ao diabo

E Jesus lhe respondeu, dizendo: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra de Deus.

 

Lucas 4:4

 

sendo que “palavra de Deus” é uma referência às Escrituras, e não a uma qualquer particular revelação.

No Antigo Testamento podemos encontrar a seguinte prática

Liam em voz alta o livro da lei de Deus, traduziam-no e explicavam-no para que todos compreendessem a Escritura.

 

Neemias 8:8 (Tradução Bíblia Para Todos)

Penso que ficou cumprido o objectivo desta mensagem, que era o de passar um conselho simples mas importante:
O Crente deve ler e estudar as Escrituras de uma forma constante pois essa prática é recomendada quer no Antigo Testamento quer no Novo Testamento e declarada como essencial para a boa condução da vida espiritual daqueles que amam a Deus.

Espero que este texto possa despertar em si uma vontade de ler a Bíblia. Se for esse o seu caso, aceite a minha sugestão e leia a partir daqui seguindo depois em diante até ao fim do Novo Testamento. Quando chegar lá, volte trás e leia tudo novamente.

Um abraço, Deus o/a abençoe.

O que é o Evangelho?

Já tive oportunidade no passado de partilhar com os leitores do Apologia.pt o motivo principal para a existência deste Website:
A Graça do Evangelho, a maior e melhor história alguma vez contada que nos chega diretamente do Céu; a história de um amor que não tem limites, o amor que Deus tem pelos seus filhos!

Recentemente, o ministério Acts17 Apologetics de David Wood, cujo foco é levar a mensagem de Jesus Cristo aos membros do Islamismo, lançou um curto vídeo animado que me pareceu uma ilustração perfeita do que é o Evangelho.

Após ter recebido a devida autorização do autor, aqui o trago já legendado em Português (ativem as legendas caso não apareçam por defeito na vossa janela de YouTube, a partir do menu “captions” ou “legendas” no canto inferior direito).

Sem mais demoras deixo o vídeo falar, por favor abra o seu coração para esta mensagem.

O que é o Evangelho?

Salvação, Pelas Obras ou Pela Fé?

Na mensagem de hoje resolvi lançar-lhe um desafio a si, leitor do Apologia.pt.

O desafio consiste em responder a uma simples pergunta como teste ao seu conhecimento Bíblico. A pergunta é sobre a Salvação, ou seja, sobre a forma como o Homem evita a Justa ira de Deus, pendente sobre toda a Humanidade:

O Homem é salvo…
a) apenas pela fé?
ou
b) pela fé + obras?

Bom é que todo aquele que se identifica como Cristão saiba responder imediatamente a esta pergunta como constatação de uma boa consciência espiritual. Se este site abordasse o ensino da Matemática a pergunta equivalente seria “quanto é 1+1?”, logo, a forma como obtemos a salvação da punição que Deus irá executar sobre todo o pecador é o conceito doutrinal mais básico e urgente de se ensinar numa Igreja Cristã.

Se o leitor se intitula Cristão e não sabe de imediato a resposta a esta pergunta terá que analisar e meditar de forma séria sobre o conteúdo doutrinário (neste caso falta dele) ensinado pelos líderes da Igreja da qual faz parte.

Antes de avançar no texto deixem-me confessar que esta pergunta não é inocente: este não é um ponto incontroverso dentro do Cristianismo e isso sucede apenas porque lamentavelmente muitas Igrejas que se intitulam “Cristãs” desvirtuam propositadamente este conceito tão simples das Escrituras.
Fazem-no acrescentando interpretações pessoais e descontextualizadas dos seus líderes aos textos originais da Bíblia, como forma de tentar passar uma mensagem contrária à ortodoxia do Cristianismo de Jesus, dos seus Apóstolos e dos Pais da Igreja que os seguiram no trabalho de edificação da Igreja de Cristo.

O porquê de certas Igrejas agirem desta forma poderá ser abordado numa mensagem futura aqui no Apologia.pt, mas para já vamos abordar o cerne da questão e extrair a verdade contida nas Escrituras sobre este ponto.

Há como indiquei 2 correntes de interpretação das Escrituras sobre a pergunta que lhe faço acerca da salvação do Homem:
Há Igrejas que afirmam que a salvação se atinge somente pela fé
Há Igrejas que afirmam que a salvação se atinge pela fé mais obras

Quem então está correto na sua avaliação das Escrituras? Quem está do lado da razão e da verdade?

Para facilitar a sua resposta, se ainda tem alguma dúvida a este respeito -ou para si que já respondeu possa confirmar se o fez correctamente-, vou colocar aqui os versículos que abordam este tema crucial na vida do Cristão divididos em 3 secções, para que possamos juntamente analisar todos os textos bíblicos que abordam o tema e dessa forma ajudá-lo a chegar a uma conclusão por si mesmo.

  • Na primeira secção, versículos que nos indicam que a salvação é somente pela fé.
  • Na segunda secção, versículos que nos indicam que a salvação não é pelas obras.
  • Na terceira secção, um versículo que é usado como justificação do argumento em favor da salvação pela fé + obras, aos quais adiciono a minha interpretação numa tentativa que espero venha a ter sucesso, de lhe demonstrar que ele apenas aparenta demonstrar a necessidade de obras por parte do Homem no atingir da sua salvação. Essa ideia não se sustenta após a devida análise.

Por uma questão de espaço não vou poder citar aqui a totalidade dos capítulos dos versículos, mas apenas excertos dos mesmos. Para uma análise profunda e compreensão do seu contexto, é sempre aconselhável a leitura do capítulo indicado na sua totalidade. Pode usar esta ferramenta online para esse efeito, ou a bíblia de que dispõe.


 

Salvos pela fé apenas:

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
João 3:16

“Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença”
Romanos 3:22

“Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.”
Romanos 3:24

“Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.”
Romanos 3:26

“Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.”
Romanos 4:3

“Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.”
Romanos 4:5

“E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que crêem, estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes seja imputada;”
Romanos 4:11

“Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós,”
Romanos 4:16

“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo;”
Romanos 5:1

“Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.”
Romanos 5:9

“Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé.”
Romanos 9:30

“Como está escrito:Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo;E todo aquele que crer nela não será confundido.”
Romanos 9:33

“Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.”
Romanos 10:4

“A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.”
Romanos 10:9-10

“Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, o faz pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?

Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.”
Gálatas 3:5-6

“Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.”
Gálatas 3:8

“Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito.”
Gálatas 3:14

“Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes.”
Gálatas 3:22

“De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.”
Gálatas 3:24

“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa;”
Efésios 1:13

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.”
Efésios 2:8

“E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé;”
Filipenses 3:9

“Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna.”
1 Timóteo 1:16

Não somos salvos pelas obras:

“Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei. É porventura Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos gentios, certamente, Visto que Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão.”
Romanos 3:28-30

“Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra.”
Romanos 11:6

Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.”
Gálatas 2:16

“Não aniquilo a graça de Deus; porque, se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde.”
Gálatas 2:21

“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie
Efésios 2:8-9

“Mas, àquele que não pratica, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça.”
Romanos 4:5

Somos «salvos» pelas obras:

“Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.”
Tiago 2:24


 

O que fazer com esta aparente contradição?

Se pudéssemos resumir a análise a esta questão restringindo-nos apenas à sua proporção numérica, poderíamos argumentar que 1 versículo (Tiago 2:24) versus os restantes 29 citados faria pender a balança da razão em favor da “justificação apenas pela fé”.
Mas, sabemos que as Escrituras são inerrantes na sua totalidade e que a Palavra de Deus deve ser harmonizada entre si e não retirada aqui e ali do seu contexto por forma a fazer avançar um argumento (daí a minha firme convicção que o estudo sistematizado das doutrinas Cristãs são a forma mais intelectualmente saudável de se viver o Cristianismo). Como tal, é nosso dever tentar perceber o porquê da aparente contradição nos escritos deste meio-irmão de Jesus, na sua epístola universal.

O que é que Tiago quis dizer com aquela frase, na verdade? Será que a leitura do restante contexto nos pode ajudar a perceber o significado das suas palavras? Vamos ver:

Tiago no capítulo 2, versículo 14 diz-nos o seguinte

Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?

Sugiro o seguinte teste;  releia o versículo acima, mas na segunda parte do versículo em vez do “a fé” substitua por “essa fé”, para que se faça mais claro o verdadeiro sentido da ideia que Tiago nos quer transmitir.
Ele não está a tentar dizer que a fé não salva, está sim a tentar argumentar que uma fé que não produz obras é uma fé morta, não existente, comportamento (neste caso ausência dele) típico daquele que vive uma falsa-conversão.

Ora se a fé não existe e isso fica visível pelas não-existentes obras na vida desse crente, e sendo a fé -de acordo com as restantes escrituras- o único requisito para a salvação, resulta na constatação que essa “fé” não salva. E não salva porque… não existe.
Vejamos o que ele nos diz a seguir, se vai ou não ao encontro desta interpretação (vv 15-17),

E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano,
E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e nào lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?
Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.

Repare que Tiago nos providencia um exemplo prático de aplicação da fé verdadeira. A fé que acompanha o coração genuinamente convertido não é indiferente à necessidade alheia. A fé tem por sua inata obrigação o produzir de bons frutos na vida do crente e o atendimento das necessidades materiais dos membros do corpo de Cristo são o exemplo dado.

Analisemos o versículo seguinte,

Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.

Reparou na forma como Tiago escreveu esta porção das escrituras? Ele diz “eu te mostrarei as minhas obras pela minha fé”, ou precisamente o contrário?
Ele diz claramente que as obras são uma demonstração da fé, uma sua natural consequência. Ora, fica claro que Tiago não está a dar importância às obras per si, mas sim àquilo que as origina e as autentica; à fé verdadeira.

Além disso, note que Tiago cita o mesmo versículo que Paulo cita em Romanos 4:3 que lida com a justificação pela fé.

Tiago 2:23 diz-nos,

E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.

Se Tiago estivesse a ensinar uma doutrina sobre fé e obras que estivesse em contradição com os outros escritores do Novo Testamento, ele não teria usado Abraão como exemplo, e muito menos essa citação.

Fica claro que Tiago pretende apenas reafirmar o que os restantes escritores do Novo Testamento colocaram por escrito manifestando dessa forma a concordância doutrinal sobre este assunto dentro da Igreja Apostólica: O meio de obtermos a salvação é Jesus Cristo, a operação é o perdão, e a condição é a fé, conforme determinado e exemplificado na vida de Abraão.

Conclusão

Tivemos oportunidade de analisar o contexto da segunda metade do 2º capítulo da carta de Tiago e verificar que a justificação é somente pela fé, e que ele se referia a uma fé falsa, e não a uma fé verdadeira, quando nos disse que não somos justificados somente pela fé no versículo em destaque.

Os versículos citados comprovam de forma inequívoca que o Novo Testamento, na sua totalidade e sem contradição, nos ensina que a salvação é o produto da Graça de Deus em resposta à nossa fé.

Não existe qualquer outro requerimento, mas apenas a Fé, para que o Homem obtenha a sua salvação.

Um Engano Chamado Tolerância

Houve uma recente polémica no mundo Cristão (sem grande expressão ou conhecimento em Portugal, como já vai sendo infelizmente habitual) sobre a alteração dos estatutos de contratação de funcionários de uma das maiores entidades de apoio humanitário no mundo, a World Vision.

World-Vision

Presidente da World Vision dos Estados Unidos: “Porque motivo vamos agora empregar Cristãos Gays em uniões de facto”

De uma forma sucinta, o que se passou é que esta empresa assumidamente Cristã decidiu alterar os seus estatutos até então redigidos de acordo com os princípios declarados nas Escrituras para que agora fosse permitida a contratação de funcionários(as) homossexuais que vivam em união de facto com o seu/sua parceiro(a). De notar que os estatutos referentes à obrigação da abstinência sexual dos restantes funcionários solteiros ou não unidos de facto se manteve.

Do lado evangélico houve uma resposta firme e crítica a esta decisão, manifestando total discordância com a alteração feita e o estilo de vida que esta consente e promove, critica essa com a qual eu concordo, à qual se seguiu uma outra resposta… surpreendentemente também do lado evangélico.

Esta última veio de um grupo que considera que não devemos ter um trato diferente com a pessoa X só porque esta adota um estilo de vida contrário ao declarado nas Escrituras porque “Jesus trouxe uma mensagem de Graça e Misericórdia” e devemos “evitar ser duros e intransigentes” porque isso “não funciona”. Coloquei entre aspas estas últimas observações porque estou a citar partes de um texto de uma amiga e irmã na fé que muito respeito, escritas precisamente sobre esta polémica. Dá para perceber de imediato que ambos, eu e ela, temos ideias bem opostas sobre este assunto.

A visão deste último grupo é aliás demasiadamente próxima da heresia do Antinomianismo, e por me sentir extremamente desconfortável com a ideia de alguém defender algo parecido decidi escrever este texto.

Qual é então o meu ponto de vista, que visão é que defendo? É simples, eu não posso ir além da Graça e Misericórdia que o próprio Jesus demonstrou. Eu não posso ser tolerante com aquilo que as Escrituras -na sua qualidade de total e inerrante conselho de Deus- nos dizem ser intolerável aos olhos de Deus.

Deixem-me ilustrar o meu ponto de vista com duas passagens das Escrituras, a primeira normalmente citada, a outra nem por isso e já perceberão o porquê.

“A Mulher adúltera” em João 8:3-11

E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher, apanhada em adultério;
E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.
E, na lei, nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra.
E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que, de entre vós, está sem pecado, seja o primeiro que atire pedra contra ela.
E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
Quando ouviram isto, saíram, um a um, a começar pelos mais velhos, até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio.
E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu, também, te condeno; vai-te, e não peques mais.

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“Nem eu, também, te condeno; vai-te, e não peques mais”

Este texto tinha muito para ser analisado, desde logo é interessante perceber o pensamento dos líderes religiosos daquela época (daquela?) que relegavam a culpa para a mulher apenas. Esta mulher havia sido surpreendida a cometer adultério, mas quem cometia adultério com ela não foi levado para ser julgado por esses escribas e fariseus. Mas avancemos por agora para o ponto que quero apresentar, deixando a riqueza do texto para uma futura e mais profunda análise.

Podemos observar uma situação clara de alguém que foi acusada perante Jesus de cometer um pecado. Qual foi a Sua resposta? Ainda se lembra?
Terá sido
“Vai, continua o teu estilo de vida porque a minha misericórdia te chega”?
ou então,
“eu vou morrer por todos os pecados, portanto continua a viver como bem entendes que nada do que faças importa”?

Foi isso que Jesus disse à Mulher? Não, não foi essa a Sua resposta. “Vai-te e não peques mais”. Não. Peques. Mais.

Podemos extrair deste texto um ensinamento além do que a extrema empatia que Jesus tem para com o pecador? Não, não podemos. Muito menos entreter o pensamento de que pecado sexual é irrelevante quando estamos debaixo da Graça de Jesus.

Jesus não aboliu a lei que diz que o adultério é pecado. Nem Jesus o fez aqui em João, nem no restante do Novo Testamento, nem o adultério foi desconsiderado como grave por aqueles que O seguiram como Apóstolos, tendo estes sido apontados pelo próprio Filho de Deus para apascentar as necessidades das Suas ovelhas e dos quais temos um conjunto de livros que compõem o Novo Testamento onde assentar os alicerces do edifício da nossa fé. Nenhum deles trata o adultério (ou outro pecado sexual) como irrelevante, bem pelo contrário.

Mas não é sobre o adultério que estamos a falar. Retomando o meu ponto inicial:

Deve o Cristão defender um conjunto de valores e deveres fundamentados nas Escrituras?
Devemos dizer ao próximo que o estilo de vida homossexual é pecado e abominável aos olhos de Deus?
Que consequências tem o meu silêncio no meu destino eterno? Nenhum. Eu acredito que jamais perderei a minha salvação, mas, e no destino eterno dos que pecam fora da Graça Salvadora de Jesus?
Devemos cruzar os braços e não reagir à medida que vemos um cego a caminhar em direção ao precipício?

Aproveito e partilho a segunda passagem das escrituras que queria partilhar, passo a palavra ao meu Senhor, novamente:

Mateus 19:4-6

Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez, no princípio, macho e fêmea os fez,
E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim, não são mais dois, mas uma só carne.
Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem.

Jesus reforçou para lá de qualquer dúvida a definição bíblica de Casamento do Antigo Testamento, aliança debaixo da qual Deus permite o ato sexual. Nenhum ato sexual é permitido excepto no contexto do Casamento conforme descrito por Jesus neste trecho em Mateus. Nenhum. Todo o contacto sexual fora deste contexto é pecado, é isto que as Escrituras nos dizem de uma forma absolutamente clara.

Condescender com um estilo de vida homossexual em nome da “Graça” e “Misericórdia” não é nem honesto nem saudável para o Cristão, e muito menos para o pecador que acreditar nessa mentira.

Que imagem passamos ao não-crente quando estamos dispostos a abdicar daquilo que sabemos ser a soberana e perfeitamente declarada vontade de Deus, só para não parecermos incómodos ou intolerantes com os demais?
Até que ponto estamos dispostos a abdicar da nossa paz e conforto para podermos fazer aquilo que é correto aos olhos de Deus e anunciarmos que todas as ações trazem consequências, umas aqui na Terra e outras na eternidade?

Não defender a cosmovisão Cristã nos dias que correm é um ato de ódio declarado àqueles que não têm a sua fé em Jesus e estão assim desde já condenados ao fogo eterno. O nosso Senhor chamou-nos para sermos o Sal e a Luz do mundo, não para sermos inertes e inconsequentes nas nossas convicções espirituais.

Nunca é demais relembrar o que nos disse Jesus sobre a fidelidade que devemos ter para com Ele:
Mateus 7:22-27 (aconselho a leitura de todo o capítulo)

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizámos nós em teu nome? e em teu nome não expulsámos demónios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi, abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.
E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia;
E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda.

Não podemos com uma mão oferecer a tolerância que este mundo tanto deseja para poder viver descontroladamente, porque com a outra estamos a esbofetear a Cristo.

Termino este texto com um ponto muito positivo e que me traz um grande contentamento. Passados alguns dias do anúncio original, e devido à pronta atuação de homens e mulheres fiéis às Escrituras de todo o mundo que manifestaram a sua discordância de uma forma graciosa mais firme, a World Vision reverteu a sua posição e reassumiu um compromisso claro com os princípios da fé Cristã, mantendo-se dessa forma fiel aos seus estatutos originais que respeitam e honram a vontade de Deus de acordo com o declarado nas Escrituras.

A Obra do Espírito Santo na Regeneração

Ontem, alguém com a destreza que a lógica confere e após uma explicação minha sobre o sermos salvos somente pela fé (e não pelas obras que praticamos), perguntou o seguinte: “Mas, se não somos salvos pelas obras o que distingue uns de outros? Um Cristão pode seguir a sua vida a praticar más obras?”.

Como fazer então a distinção? Alguém que diz crer em Jesus como seu Salvador e que mantém um padrão de vida não condizente com o padrão cristão, está salvo?
A Bíblia dá-nos autoridade para emitir uma opinião devidamente fundamentada neste casos?

Dá, e de que maneira! A Palavra de Deus é clara: Naquele que crê genuinamente, Deus nele faz habitar o Espírito Santo, que produz, desde logo, uma regeneração efetiva e notória.
Se o crente em Deus por Jesus Cristo não notar uma modificação no seu “eu” interior, nas suas vontades, desejos, ambições, paixões, na sua maneira de falar e de agir, na forma como lida com a imperfeição dos outros, na forma como se dedica a ler a bíblia, a orar, a aprofundar a sua ligação a Deus, etc, então há um sério aviso na sua vida e essa pessoa deverá fazer uma profunda avaliação sobre a validade da sua escolha quando aceitou a mensagem do Evangelho.

A ação é clara…
“Mas, todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor
2 Coríntios 3:18

… e o resultado deverá ser notório…
“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança
Gálatas 5:22

Logo após falar com essa pessoa, fiquei com vontade de escrever um artigo a falar na Regeneração produzida pelo Espírito Santo, e eis senão quando, hoje mesmo, me deparo com este artigo do site Monergismo, bastante completo e que aborda precisamente este assunto. Boa leitura:

A Obra do Espírito Santo na Regeneração

John_Owen

por John Owen

A obra do Espírito Santo na regeneração de almas precisa ser estudada e claramente compreendida pelos pregadores do evangelho, e por todos aqueles a quem a Palavra de Deus é pregada. É pelos verdadeiros pregadores do evangelho que o Espírito Santo regenera as pessoas (lCo.4:15; Fm.10; At.26: 17,18). Por isso, todos aqueles que pregam o evangelho precisam conhecer totalmente a regeneração para que possam com Deus e o Seu Espírito trazer almas ao “novo nascimento”. É também dever de todos os que ouvem a Palavra de Deus estudar e entender a regeneração (2Co.13:5).
O grande trabalho do Espírito Santo é a obra de regeneração (Jo.3:3-6). Certa noite Nicodemus, um mestre de Israel, veio até Jesus, que lhe disse: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. (…) O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito”. O nosso Senhor tendo o conhecimento de que a fé e a obediência a Deus, e a nossa aceitação da parte de Deus, dependem de um novo nascimento, fala a Nicodemus do quão necessário é nascer de novo. Nicodemus fica surpreso com isso, e assim Jesus segue adiante a ensinar-lhe que obra de regeneração é esta. Ele diz: “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (v.5).

A regeneração, portanto, ocorre por meio “da água e do Espírito”. O Espírito Santo faz a obra de regeneração na alma do homem, da qual a água é o sinal exterior. Este símbolo externo é um solene compromisso e selo do pacto que até então lhes vinha sendo anunciado por João Batista. A água pode também significar o próprio Espírito Santo.

João nos fala que todos aqueles que receberam a Cristo só o fizeram por terem nascido de Deus (Jo. 1:12,13). Nem a hereditariedade, nem a vontade do homem podem produzir um novo nascimento. A obra como um todo é atribuída tão-somente a Deus (veja também Jo.3:6; Ef.2:1,5; Jo.6:63; Rm.8:9,10; Tt.3:4-6).

É sempre importante lembrar que toda a Trindade está envolvida nesta obra de regeneração. Ela se origina na bondade e no amor de Deus como Pai (Jo.3:16; Ef.1:3-6), da Sua vontade, propósito e conselho. É uma obra do Seu amor e graça. Jesus Cristo nosso Salvador a adquiriu para pecadores (Ef. 1:6). Mas o verdadeiro “lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” nas nossas almas é obra do Espírito Santo (Tt.3:4-6).

Todavia o meu presente objetivo é confirmar os princípios fundamentais da verdade concernente a essa obra do Espírito Santo que vêm sendo negados e combatidos.

A REGENERAÇÃO NO VELHO TESTAMENTO

No Velho Testamento a obra de regeneração ocorria desde a fundação do mundo, e foi registrada nas Escrituras. Contudo o seu conhecimento era muito vago comparado ao conhecimento que temos dela no evangelho.

Nicodemus, um importante mestre de Israel, declarou a sua ignorância quanto a isso. “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?”. Cristo maravilhou-se de que um mestre de Israel não conhecesse esta doutrina da regeneração. Estava nitidamente declarado nas promessas especificas do Velho Testamento, como também em outras passagens (conforme veremos), que Deus haveria de circuncidar os corações do Seu povo, tirar-lhes o coração de pedra e dar-lhes um coração de carne. Em sua ignorância os mestres de Israel imaginavam que a regeneração significava apenas uma reforma de vida. De modo semelhante muitos hoje consideram a regeneração como nada mais que o esforço para se levar uma vida moral. Mas se a regeneração significar nada mais do que se tornar um novo homem moral — algo a que todos, tanto mais ou menos, recomendam — dessa forma o nosso Senhor Jesus Cristo, bem mais do que esclarecer a Nicodemus sobre esta questão, a obscureceu mais ainda.

O Novo Testamento ensina claramente que o Espírito Santo faz uma obra secreta e misteriosa nas almas dos homens. Agora, se esta obra secreta e misteriosa for na verdade apenas uma reforma moral que capacita os homens a viverem melhor, se for apenas um convencimento externo para abandonar o mal e se fazer o bem, então, a doutrina da regeneração ensinada por Cristo e todo o Novo Testamento, é definitivamente incompreensível e sem sentido.

A regeneração e a doutrina da regeneração existiram no Velho Testamento. Os eleitos de Deus, de qualquer geração, nasceram de novo pelo Espírito Santo. Mas antes da vinda de Cristo, todas as coisas dessa natureza, estavam “desde o princípio do mundo, ocultas em Deus” (Ef.3:9 — tradução literal NKJV).

Mas agora chegou o grande médico, aquele que haveria de curar a terrível ferida das nossas naturezas pela qual estávamos mortos em nossos “delitos e pecados”. Ele abre a ferida, mostra-nos o quão é terrível e revela a situação de morte que ela trouxe sobre nós. Ele assim o faz para que sejamos verdadeiramente agradecidos quando nos curar. Assim pois, nenhuma doutrina é mais completa e claramente ensinada no evangelho do que esta doutrina da regeneração.

Quão corrompidos, portanto, são os que a negam, desprezam e rejeitam.

A CONSTANTE OBRA DO ESPÍRITO

Os eleitos de Deus não eram regenerados de uma maneira no Velho Testamento e de outra completamente diferente, pelo Espírito Santo, no Novo Testamento. Todos eram regenerados de um mesmo modo pelo mesmo Espírito Santo. Aqueles que foram milagrosamente convertidos, como Paulo, ou que em suas conversões lhes foram concedidos dons miraculosos, como muitos dos cristãos primitivos, não foram regenerados de um modo diferente de nós mesmos, que também temos recebido esta graça e privilégio.

Os dons miraculosos do Espírito Santo nada tinham a ver com a Sua obra de regeneração. Não eram a comprovação de que alguém havia sido regenerado. Muitos dos que possuíram dons miraculosos jamais foram regenerados; outros que foram regenerados jamais possuíram dons miraculosos.

É também o cúmulo da ignorância supor que o Espírito Santo no passado regenerava pecadores miraculosamente, mas que agora Ele não o faz de modo milagroso, mas por persuadir-nos que não é razoável que não nos arrependamos dos nossos pecados.

Jamais cairemos neste erro se considerarmos o seguinte:

a) A condição de todos os não-regenerados é exatamente a mesma. Uns não são mais não-regenerados que outros. Todos os homens são inimigos de Deus. Todos estão sob a Sua maldição (Sl.51:5;Jo.3:5, 36; Rm.3:19; 5:15-18; Ef.2:3; Tt.3:3,4).

b) Há variados níveis de malignidade nos não-regenerados, assim como há diversos níveis de santidade entre os regenerados. Todavia o estado de todos os não-regenerados -é o mesmo. Todos carecem de que se faça neles a mesma obra do Espírito Santo.

c) O estado a que os homens são trazidos pela regeneração é o mesmo. Nenhum é mais regenerado do que outro, contudo uns podem ser mais santificados que outros. Aqueles gerados por pais naturais nascem de um mesmo modo, embora alguns logo superem os outros em perfeições e habilidades. O mesmo também ocorre com todos os que são nascidos de Deus.

d) A graça e o poder pelos quais esta obra de regeneração é operada em nós são os mesmos. A verdade é que aqueles que desprezam o novo nascimento, fazem-no porque desprezam a nova vida. Aquele que odeia a idéia de viver para Deus, odeia a idéia de ser nascido de Deus. No final, entretanto, todos os homens serão julgados por esta pergunta: “Você nasceu de Deus?”.

A COMPREENSÃO ERRADA SOBRE A REGENERAÇÃO

Em primeiro lugar regeneração não é meramente ser batizado e dizer: “eu me arrependi”. A água do batismo é apenas um sinal externo (lPe.3:21). A água mesmo só pode molhar e lavar alguém da “imundícia da carne”. Mas como um sinal exterior ela significa “uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (lPe.3:21. Veja Hb.9:14; Rm.6:3-7). O apóstolo Paulo faz claramente a distinção entre a ordenança exterior e o ato de regeneração em si mesmo (Gl.6:15). Se batismo acompanhado de confissão de arrependimento for regeneração, então todos aqueles que foram batizados e se confessaram arrependidos têm de ser regenerados. Mas é claro que isso não é assim (veja At.8: 13 com os vv. 21, 23).

Em segundo lugar a regeneração não é uma reforma moral da vida exterior e do comportamento. Por exemplo, suponhamos uma tal reforma exterior pela qual alguém volta-se de fazer o mal para fazer o bem. Deixa de roubar e passa a trabalhar. Não obstante, haja o que houver de justiça real nessa mudança moral exterior de comportamento, ela não procede de um novo coração e de uma nova natureza que ama a justiça. É tão-somente pela regeneração que um corrupto e pecaminoso inimigo da justiça pode ser trazido a amá-la e a deleitar-se em praticá-la. Há os que escarnecem da regeneração como sendo inimiga da moralidade, justiça e reforma, mas um dia hão de descobrir o quanto estão errados.

A idéia de que a regeneração nada mais é do que uma reforma moral da vida, procede da negação do pecado original e do fato de sermos maus por natureza. Se não fôssemos maus por natureza, se fôssemos bons no fundo do nosso coração, então não haveria necessidade de nascermos de novo.

A REGENERAÇÃO NÃO PRODUZ EXPERIÊNCIAS SUBJETIVAS.

A regeneração nada tem a ver com enlevos extraordinários, êxtases, ouvir vozes celestiais ou com qualquer outra coisa do tipo. Quando o Espírito Santo faz a Sua obra de regeneração nos corações dos homens, Ele não vem sobre eles com grandes e poderosos sentimentos e emoções aos quais não podem resistir.

Ele não se apodera dos homens como os maus espíritos se apossam das suas vitimas. Toda a Sua obra pode ser racionalmente compreendida e explicada por todo aquele que crê na Escritura e recebeu o Espírito da verdade que o mundo não pode receber. Jesus disse a Nicodemus: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai”, assim é com a obra de regeneração do Espírito Santo.

A NATUREZA DA REGENERAÇÃO

Regeneração é colocar na alma uma nova lei de vida que é verdadeira e espiritual, que é luz, santidade e justiça, que leva à destruição de tudo o que odeia a Deus e luta contra Ele. A regeneração produz uma milagrosa mudança interior do coração. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura”. A regeneração não se dá pelos sinais exteriores de uma mudança moral do coração e é muito distinta deles (Gl.5:6; 6:15).

A regeneração é um ato onipotente de criação. Um novo princípio ou lei é criado em nós pelo Espírito Santo (Sl.51:10; Ef.2:10). Esta nova criação não é um novo hábito formado em nós, mas uma nova capacidade e faculdade. É chamada, portanto, de “natureza divina” (2Pe. 1:4). Esta nova criação é o revestir de uma nova capacidade e faculdade criada em nós por Deus e que traz a Sua imagem (Ef.4:22-24).

A regeneração renova as nossas mentes. Ser renovado no espírito de nossas mentes significa que as nossas mentes possuem agora uma nova e salvadora luz sobrenatural que as capacita a pensarem e a agirem espiritualmente (Ef.4:23; Rm.12:2). O crente é renovado em “conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl.3:10).

O NOVO HOMEM

Esta capacidade e faculdade nova produzida em nós pela regeneração é chamada de “novo homem”, porque envolve uma completa e total mudança da alma, de onde procede toda ação espiritual e moral (Ef.4:24). Este “novo homem” é contraposto ao “velho homem” (Ef.4:22,24). Este “velho homem” é a nossa natureza humana corrompida que tem a capacidade e faculdade de produzir pensamentos e atos malignos. O “novo homem” está capacitado e habilitado a produzir atos religiosos, espirituais e morais (Rm.6:6). Denomina-se de “novo homem” porque é uma “nova criação de Deus” (Ef.l:19; 4:24; Cl.2:12, 13; 2Ts.1:11).

Este “novo homem” é criado de imediato, num átimo. É por isso que a regeneração não pode ser uma mera reforma de vida, que é o trabalho de toda uma vida (Ef.2:10). É a obra de Deus em nós que antecede todas as nossa obras para com Deus. Somos feitura de Deus, criados para produzir boas obras (Ef.2: 10).

Assim pois não podemos produzir boas obras aceitáveis a Deus sem que primeiro Ele produza esta nova criação em nós. Está dito que este “novo homem” é “criado segundo Deus [i.e., à Sua imagem], em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef.4:24). A imagem de Deus no primeiro homem não foi uma reforma de vida. Nem foi um padrão de bom proceder. Adão foi criado à imagem de Deus antes que fizesse qualquer boa obra. Esta imagem de Deus era a capacidade e faculdade dada a Adão para viver uma vida tal que manifestasse verdadeiramente o caráter santo e justo de Deus. Tal capacidade e faculdade foi dada a Adão antes mesmo dele começar a viver para Deus. É verdadeiramente indispensável que o mesmo ocorra também conosco. Primeiro, a imagem de Deus, a qual é o “novo homem”, é novamente criada em nós. Então podemos começar mais uma vez a apresentar em nossas vidas o caráter santo e justo de Deus (Lc.6:43; Mt.7:18).

A ALIANÇA DE DEUS

Deus já nos tem dito como nos trata em Sua aliança (Ez.36:25-27; Jr.31:33; 32:39,40). Ele primeiro lava e limpa a nossa natureza; arranca o nosso coração de pedra e dá-nos um coração de carne; escreve as Suas leis em nossos corações e coloca o Seu Espírito em nós para nos capacitar a guardar essas leis. É isso o que significa regeneração. Que também é descrita como o santificar, o tornar santo todo nosso espírito, alma e corpo (lTs.5:23).

COMPROVADO PELA ESCRITURA

O Espírito Santo não opera de qualquer outro modo senão por aquilo que nos mostra a Escritura. Tudo que alega ser obra de regeneração Sua, precisa ser comprovado pela Escritura. O Espírito Santo, por ser onisciente, conhece as nossas naturezas perfeitamente, e por isso sabe com exatidão como operar nelas sem as ferir ou danificar, sem forçá-las de modo algum a concordar com a Sua vontade.

A pessoa ao ser regenerada, jamais, em momento algum, sente que está sendo malignamente forçada contra a sua vontade. A despeito disso, muitos que são verdadeiramente regenerados têm sido tratados pelo mundo como se fossem loucos, ou algum tipo de fanático religioso (2Rs.9:11; Mc.3:21; At.26:24, 25).

A obra do Espírito Santo na regeneração de almas precisa ser estudada e claramente compreendida pelos pregadores do evangelho, e por todos aqueles a quem a Palavra de Deus é pregada. É pelos verdadeiros pregadores do evangelho que o Espírito Santo regenera as pessoas (lCo.4:15; Fm.10; At.26: 17,18). Por isso, todos aqueles que pregam o evangelho precisam conhecer totalmente a regeneração para que possam com Deus e o Seu Espírito trazer almas ao “novo nascimento”. É também dever de todos os que ouvem a Palavra de Deus estudar e entender a regeneração (2Co.13:5).

A regeneração foi-nos revelada por Deus (Dr.29:29). Assim pois não estudar nem tentar compreender esta grande obra é revelar a nossa própria estultícia e loucura. Enquanto não tivermos nascido de Deus nada poderemos fazer que Lhe agrade, nem obtemos dEle quaisquer consolações, e nada somos capazes de entender a Seu respeito ou sobre o que Ele está realizando no mundo.

Há o grande perigo de que os homens possam estar enganados quanto à regeneração e que estejam, portanto, eternamente perdidos. Crendo erroneamente que podem obter o céu sem que lhes seja necessário nascer de novo, ou que havendo nascido de novo podem continuar a levar uma vida pecaminosa. Tais opiniões contradizem claramente o ensinamento do nosso Senhor e dos apóstolos (Jo.3:5; 1Jo.3:9).
Fonte:
Jornal Os Puritanos – Ano X – No 04 – Out./Nov./Dez./2002
(Extraído do Livro “O Espírito Santo”, do teólogo puritano John Owen (O Príncipe dos Puritanos), publicado pela Banner Of Truth, cap 8, pg 43-51.
Adaptado das suas obras para uma linguagem contemporânea por R.J.K. Law.)

(partilhado do Monergismo)

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